segunda-feira, 16 de julho de 2012

A longa caminhada de um TCC - Contribuição da colega Juliana Maria Corrêa


Eu gostaria de poder falar em poucas palavras, mas embora tenha se passado pouco tempo, a história é longa. Meu TCC é fruto de toda uma caminhada, onde fui conquistando companheiros e grandes parcerias, muitas delas nem estão mais no meu dia-a-dia, mas não poderia deixar de agradecer. Sendo assim, vou contar um pouco da minha trajetória. Iniciei o curso de educação física em 2007, logo que sai do ensino médio, na época não sabia nem por que havia escolhido, mas foi algo meio automático, com o tempo as respostas foram aparecendo. Em 2008/2 tive a oportunidade de fazer a disciplina fundamentos da educação física, e com o professor CRISTIANO, compreendi a importância da pesquisa, devo muito a esse professor, lembro que na época falamos sobre bolsa de pesquisa e ele me disse que era algo muito difícil de fazer. Nesse mesmo ano, eu procurava estágio e nada, foi então que decidi fazer, também sem saber por que, trabalho voluntário na COFAMEG, uma instituição que atende pessoas com deficiência intelectual, aqui em Gravataí, organizada por pais e voluntários. Lá foi a minha primeira vivência como estagiária de educação física e com deficiência, criei, inventei, me emocionei, mas consegui um estágio e na época, imatura, achei que seria muito cansativo, abandonei a COFAMEG. 

O meu estágio era no setor de musculação da SOGIPA, foi uma excelente experiência. Nesse meio tempo meu sobrinho querido, estava com uns dois anos, bem esperto, e muito apegado a mim. Antes da SOGIPA eu ficava muito tempo com ele e com a nova jornada acabei me afastando, foi nessa época que ele deu uma mudada, parou de falar algumas coisas, ficou mais agitado. Não sabíamos o que estava acontecendo, mas como ele já estava com dois anos e quase não falava, minha irmã começou a ir a médicos, depois de toda uma peregrinação, uma excelente fonoaudióloga diagnosticou nosso pequeno com AUTISMO, pra quem ainda não conhece, é um transtorno, que gera prejuízo na comunicação e nas relações sociais. Dessa data em diante foquei meus estudos nessa área, para compreender melhor o BIEL. Com quase dois anos passados, sai da SOGIPA e fui para a academia EXTREME, aqui em Gravataí, na parada 76. Em 2010, minha irmã, JAQUE, mãe do Biel, foi indicada a levar ele em uma psicomotricista aqui de Gravataí, na época, não entendemos por que, pois, ele não tinha nenhuma dificuldade motora, quando conhecemos a FABÍOLA, entendemos que o corpo tem muito mais funções de que podíamos supor e que a comunicação dele tinha tudo a ver com isso. Resolvi fazer trabalho voluntário com ela, na natação da escola ÁGUA VIVA, inicialmente com todas as crianças, mas as que mais me chamavam a atenção eram as com deficiência, a escola tem toda uma história de inclusão, então existem muitos alunos com deficiência, além dos que fazem parte do projeto nado adaptado, em parceria com a SMED, que atende 35 alunos com deficiência das escolas municipais. 

Ainda em 2010 me dividia entre a academia, a natação e a faculdade, resolvi fazer uma pesquisa, na época, me sentia desamparada a universidade, eu já havia tentado, mas sem sucesso. Foi ai que conversei com o professor JUNIOR, na disciplina de Saúde Coletiva, ele me apoiou a fazer a pesquisa, embora não tenhamos chegado a um acordo e eu tenha solicitado a orientação da ALINE e da SIMONE, mas foi ele quem deu o empurrão. Iniciei a pesquisa sobre inclusão escolar, a qual, já apresentei algumas vezes aqui no curso. Muitas pessoas me ajudaram, com orientação, com caronas, com tudo, ideias e conselhos. Corri atrás de parcerias, das quais posso citar a MIRIAM, que nesse ano era assessora de políticas públicas em Gravataí, tive também pessoas queridas que trabalham nas escolas da cidade e que se sensibilizaram com minha luta, pela inclusão e respeito às diferenças. Nesse ano com toda a força me tornei uma lutadora pela inclusão, batalho para que todos compreendam a importância do respeito nas nossas vidas, mas não da boca pra fora e sim pra dentro, lá onde dói, no coração. Foi essa pesquisa que me oportunizou conhecer o IPESA, um centro de estudos em acessibilidade da ULBRA CANOAS, fiz contato pra apresentar meu trabalho e fui prontamente atendida pelo professor LAÍNO, quando fui lá conhecê-lo me espantei, ele já tinha lido meu trabalho e fez vários comentários, me senti muito honrada, alguém tão bem engajado nas causas me dizendo que eu estava no caminho certo, puxa, foi muito bom, pedi ajuda e ele disse que quando pudesse entraria em contato. 

O tempo passou e eu achei que ele tinha me esquecido. Fui fazendo a pesquisa e junto com isso me organizei pra fazer meu estágio III na mesma área, encontrei a ONG RS PARADESPORTO, que também foi minha parceira. Fiz os tramites necessários e em abril iniciei, assim como apresentado anteriormente. Já em 2012 recebi um contato do professor Laíno, me dando o prazer de me tornar aluna bolsista de pesquisa em seu grupo, hoje nosso, sobre educação social, que é muito maravilhoso e tem tudo a ver com a educação física.  Nesse ano conclui as coletas da pesquisa das escolas, estou bem envolvida no grupo, completo dois anos na academia e na piscina, tive muitos prazeres e se hoje estou aqui é por todos vocês que me apoiaram, me valorizaram, me socorreram. Embora eu não seja das pessoas mais crentes em Deus, durante toda a minha vida profissional ele me deu sinais e eu não enxerguei, me guiando até pessoas com deficiência, até uma maravilhosa psicomotricista, que pode me ensinar muito e me mostrar o que eram aquelas brincadeiras que eu fazia sempre que tinha criança por perto, fazendo das pessoas da minha família diferentes e me permitindo tentar entender, fazendo um exercício de paciência a cada dia, mas mesmo assim eu não enxerguei e foi preciso um menino autista, que mesmo sem poder falar, me disse tudo o que nenhum autor de livro escreveu, foi a deficiência e o amor que sinto pelo meu guri que me mostrou o quando é importante sermos profissionais dedicados, que as pessoas que vem até nós tem diversos problemas e que cabe a nós como profissionais seja de que área for, abrir os olhos, não apenas para ver, mas enxergando cada detalhe e de que forma podemos usá-lo para melhorar a vida daquela pessoa. 

Eu resolvi escrever essa mensagem de última hora, por que quando pensei em enviar meu trabalho para que me ajudassem a corrigir, vi que tinha muitas pessoas com quem contar e esse trabalho tem o dedo de cada um de vocês. Meus queridos, muito obrigada, por poder contar com cada um de vocês, me sinto muito feliz por ter pessoas tão maravilhosas em meio caminho. Peço desculpas aos que não foram citados, mas me lembro de todos e fico muito orgulhosa, pois, sem vocês nada disso seria possível. Aprender com quem é diferente é o maior prazer e eu sou muito agradecida por ter essa oportunidade todos os dias!

Juliana Maria Corrêa – Formanda em educação física – 2012/2; tia de um lindo autista, que é meu maior mestre e cheia de companheiros, obrigada por tudo!

2 comentários:

  1. Depois de passarmos por várias situações e experiências acabamos valorizando mais ainda a aprendizagem que nos é passada durante a graduação, resumindo só aprendemos de verdade com o tempo.

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  2. Nós, do grupo de pesquisa Educação Social e Transversalidade, nos sentimos horados de fazer parte desta caminhada de luta, dificuldades, mas, com certeza, de conquistas, aprendizagem e construção.
    É uma honra tê-la como aluna bolsista do grupo de pesquisa.
    Parabéns, Juliana!
    Att. Grupo de Pesquisa Educação Social e Transversalidade - ULBRA.

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