Eu gostaria de poder falar
em poucas palavras, mas embora tenha se passado pouco tempo, a história é
longa. Meu TCC é fruto de toda uma caminhada, onde fui conquistando
companheiros e grandes parcerias, muitas delas nem estão mais no meu dia-a-dia,
mas não poderia deixar de agradecer. Sendo assim, vou contar um pouco da minha
trajetória. Iniciei o curso de educação física em 2007, logo que sai do ensino
médio, na época não sabia nem por que havia escolhido, mas foi algo meio
automático, com o tempo as respostas foram aparecendo. Em 2008/2 tive a
oportunidade de fazer a disciplina fundamentos da educação física, e com o
professor CRISTIANO, compreendi a importância da pesquisa, devo muito a esse
professor, lembro que na época falamos sobre bolsa de pesquisa e ele me disse
que era algo muito difícil de fazer. Nesse mesmo ano, eu procurava estágio e
nada, foi então que decidi fazer, também sem saber por que, trabalho voluntário
na COFAMEG, uma instituição que atende pessoas com deficiência intelectual,
aqui em Gravataí, organizada por pais e voluntários. Lá foi a minha primeira
vivência como estagiária de educação física e com deficiência, criei, inventei,
me emocionei, mas consegui um estágio e na época, imatura, achei que seria
muito cansativo, abandonei a COFAMEG.
O meu estágio era no setor de musculação
da SOGIPA, foi uma excelente experiência. Nesse meio tempo meu sobrinho
querido, estava com uns dois anos, bem esperto, e muito apegado a mim. Antes da
SOGIPA eu ficava muito tempo com ele e com a nova jornada acabei me afastando,
foi nessa época que ele deu uma mudada, parou de falar algumas coisas, ficou
mais agitado. Não sabíamos o que estava acontecendo, mas como ele já estava com
dois anos e quase não falava, minha irmã começou a ir a médicos, depois de toda
uma peregrinação, uma excelente fonoaudióloga diagnosticou nosso pequeno com
AUTISMO, pra quem ainda não conhece, é um transtorno, que gera prejuízo na
comunicação e nas relações sociais. Dessa data em diante foquei meus estudos
nessa área, para compreender melhor o BIEL. Com quase dois anos passados, sai
da SOGIPA e fui para a academia EXTREME, aqui em Gravataí, na parada 76. Em
2010, minha irmã, JAQUE, mãe do Biel, foi indicada a levar ele em uma
psicomotricista aqui de Gravataí, na época, não entendemos por que, pois, ele
não tinha nenhuma dificuldade motora, quando conhecemos a FABÍOLA, entendemos
que o corpo tem muito mais funções de que podíamos supor e que a comunicação
dele tinha tudo a ver com isso. Resolvi fazer trabalho voluntário com ela, na
natação da escola ÁGUA VIVA, inicialmente com todas as crianças, mas as que
mais me chamavam a atenção eram as com deficiência, a escola tem toda uma
história de inclusão, então existem muitos alunos com deficiência, além dos que
fazem parte do projeto nado adaptado, em parceria com a SMED, que atende 35
alunos com deficiência das escolas municipais.
Ainda em 2010 me dividia entre a
academia, a natação e a faculdade, resolvi fazer uma pesquisa, na época, me
sentia desamparada a universidade, eu já havia tentado, mas sem sucesso. Foi ai
que conversei com o professor JUNIOR, na disciplina de Saúde Coletiva, ele me
apoiou a fazer a pesquisa, embora não tenhamos chegado a um acordo e eu tenha
solicitado a orientação da ALINE e da SIMONE, mas foi ele quem deu o empurrão.
Iniciei a pesquisa sobre inclusão escolar, a qual, já apresentei algumas vezes
aqui no curso. Muitas pessoas me ajudaram, com orientação, com caronas, com
tudo, ideias e conselhos. Corri atrás de parcerias, das quais posso citar a
MIRIAM, que nesse ano era assessora de políticas públicas em Gravataí, tive
também pessoas queridas que trabalham nas escolas da cidade e que se
sensibilizaram com minha luta, pela inclusão e respeito às diferenças. Nesse
ano com toda a força me tornei uma lutadora pela inclusão, batalho para que
todos compreendam a importância do respeito nas nossas vidas, mas não da boca
pra fora e sim pra dentro, lá onde dói, no coração. Foi essa pesquisa que me
oportunizou conhecer o IPESA, um centro de estudos em acessibilidade da ULBRA
CANOAS, fiz contato pra apresentar meu trabalho e fui prontamente atendida pelo
professor LAÍNO, quando fui lá conhecê-lo me espantei, ele já tinha lido meu
trabalho e fez vários comentários, me senti muito honrada, alguém tão bem
engajado nas causas me dizendo que eu estava no caminho certo, puxa, foi muito
bom, pedi ajuda e ele disse que quando pudesse entraria em contato.
O tempo
passou e eu achei que ele tinha me esquecido. Fui fazendo a pesquisa e junto
com isso me organizei pra fazer meu estágio III na mesma área, encontrei a ONG
RS PARADESPORTO, que também foi minha parceira. Fiz os tramites necessários e
em abril iniciei, assim como apresentado anteriormente. Já em 2012 recebi um
contato do professor Laíno, me dando o prazer de me tornar aluna bolsista de
pesquisa em seu grupo, hoje nosso, sobre educação social, que é muito
maravilhoso e tem tudo a ver com a educação física. Nesse ano conclui as coletas da pesquisa das
escolas, estou bem envolvida no grupo, completo dois anos na academia e na
piscina, tive muitos prazeres e se hoje estou aqui é por todos vocês que me
apoiaram, me valorizaram, me socorreram. Embora eu não seja das pessoas mais
crentes em Deus, durante toda a minha vida profissional ele me deu sinais e eu
não enxerguei, me guiando até pessoas com deficiência, até uma maravilhosa
psicomotricista, que pode me ensinar muito e me mostrar o que eram aquelas
brincadeiras que eu fazia sempre que tinha criança por perto, fazendo das
pessoas da minha família diferentes e me permitindo tentar entender, fazendo um
exercício de paciência a cada dia, mas mesmo assim eu não enxerguei e foi
preciso um menino autista, que mesmo sem poder falar, me disse tudo o que
nenhum autor de livro escreveu, foi a deficiência e o amor que sinto pelo meu
guri que me mostrou o quando é importante sermos profissionais dedicados, que
as pessoas que vem até nós tem diversos problemas e que cabe a nós como
profissionais seja de que área for, abrir os olhos, não apenas para ver, mas
enxergando cada detalhe e de que forma podemos usá-lo para melhorar a vida
daquela pessoa.
Eu resolvi escrever essa mensagem de última hora, por que
quando pensei em enviar meu trabalho para que me ajudassem a corrigir, vi que
tinha muitas pessoas com quem contar e esse trabalho tem o dedo de cada um de
vocês. Meus queridos, muito obrigada, por poder contar com cada um de vocês, me
sinto muito feliz por ter pessoas tão maravilhosas em meio caminho. Peço
desculpas aos que não foram citados, mas me lembro de todos e fico muito
orgulhosa, pois, sem vocês nada disso seria possível. Aprender
com quem é diferente é o maior prazer e eu sou muito agradecida por ter essa
oportunidade todos os dias!
Juliana Maria Corrêa –
Formanda em educação física – 2012/2; tia de um lindo autista, que é meu maior
mestre e cheia de companheiros, obrigada por tudo!
Depois de passarmos por várias situações e experiências acabamos valorizando mais ainda a aprendizagem que nos é passada durante a graduação, resumindo só aprendemos de verdade com o tempo.
ResponderExcluirNós, do grupo de pesquisa Educação Social e Transversalidade, nos sentimos horados de fazer parte desta caminhada de luta, dificuldades, mas, com certeza, de conquistas, aprendizagem e construção.
ResponderExcluirÉ uma honra tê-la como aluna bolsista do grupo de pesquisa.
Parabéns, Juliana!
Att. Grupo de Pesquisa Educação Social e Transversalidade - ULBRA.