Nicho em crescimento,
esportes radicais atraem profissionais de Educação Física em busca de um trabalho extra durante as férias.
Por ser um País de dimensões continentais, o Brasil está apto à realização de diversas práticas esportivas e as
modalidades radicais
têm sido bastante procuradas, ainda mais durante o verão, já que muitas
são feitas ao ar livre. Flávio Ascânio, professor Ms da disciplina
Esportes Radicais e de Aventura, do curso de Educação Física das
Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), da capital paulista, lembra que
as pessoas estão cansadas dos esportes tradicionais e buscam a emoção
para escapar das regras do dia a dia. “Quem gosta de emoções acaba
buscando essas modalidades - que prefiro chamar de
radicais,
porque o risco é sempre presente, o que não significa que a pessoa irá
se machucar. Acho que o que atrai as pessoas é fazer algo desconhecido. A
aventura está em conhecer a prancha, a praia, mas não
as ondas, que mudam sempre e propõe uma superação de limites”, destaca
Ascânio, que também é surfista.
As opções são bastante variadas
e, por isso, costumam ser divididas pelos meios nas quais são
praticadas, como aquáticas (surf, rafting, boia cross, aquaride, etc),
aéreas (paraglide, asa-delta, parapente, etc), terrestres (montanhismo,
cavalgada, etc), de neve (snow board, esqui) e aquelas que mesclam essas
vertentes (kite surf), podendo ser praticadas tanto em ambientes
internos quanto externos. Algumas vezes, a prática esportiva pode ser
limitada pelos desenhos geográficos, sendo praticada em alguns lugares
apenas em decorrência também das alterações climáticas. Afinal, como
lembra Marcos Cunha, professor de escalada e skate da Outdoor Adventure
(
https://www.facebook.com/OutdoorAdventureEsportesEAtividadesDeAventura),
quem vai praticar rafting ou boia cross, por exemplo, precisa de um rio
bem caudaloso, cheio, e depende das chuvas para que a atividade possa
ser praticada.
A Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de
Aventura
(Abeta) orienta que, de acordo com a Lei Geral do Turismo, publicada em
dezembro de 2010, os condutores das empresas de turismo de aventura
devem comprovar sua qualificação em Competências Mínimas do Condutor
(CMC) e atendimento às emergências, em conformidade com a norma técnica
da ABNT NBR 15285. Além disso, é importante que os condutores façam
cursos de especialização de acordo com as atividades que irão conduzir
(rafting, arvorismo, escalada, mergulho, etc).
Fazendo bonito nos Esportes de Aventura
A alta procura pelos
esportes de aventura fez com
que universidades de diversos estados criassem cursos de pós-graduação e
especialização nesse tipo de modalidade. A falta de mão-de-obra
especializada também pesou bastante. Ascânio lembra que em algumas
cidades ainda é difícil encontrar gente que realmente esteja preparada
para lidar com aquela modalidade e, por isso, os “instrutores” acabam
sendo simplesmente praticantes, o que torna a atividade arriscada para
os turistas que a buscam.
Foi essa necessidade, inclusive, que motivou Thiago Moreira Novaes, instrutor técnico da Oca Adventure (
www.ocaadventure.com.br),
a trabalhar com essa área: “passei anos vendo muita gente conduzindo
trilhas sem preparo, sem o mínimo conhecimento para levar turistas a
esse tipo de atividade, feita junto da natureza”. Especializado em
trilhas, Thiago também dá cursos aos profissionais de Educação Física
sobre a sua modalidade e também sobre como sobreviver na mata. “É
preciso se atualizar para proporcionar segurança e controlar o risco da
atividade sem ficar à mercê da natureza. Tem que conhecer bem o meio no
qual se trabalha e ter experiência naquela modalidade”, explica.
O professor da FMU lembra que apenas o conhecimento acadêmico não é suficiente. Fazer cursos rápidos e pós-graduação em
esportes de aventura
é fundamental para poder lidar com esse nicho de mercado, além de
buscar outros cursos complementares, como o de primeiros socorros para
estar preparado com quaisquer eventualidade que possa surgir durante a
prática. Ler artigos, revistas e sites sobre o tema também ajudam muito,
mas a prática é o que mais colabora para a qualidade profissional do
especialista em
esportes radicais.
Segurança nos Esportes de Aventura
Ter conceitos básicos sobre primeiros socorros é fundamental para o
profissional de Educação Física que queira se especializar nos
esportes de aventura,
mesmo que ele só trabalhe com essas atividades aos fins de semana ou
temporadas para complementar a renda. Além disso, cada modalidade tem
uma necessidade diferente e que precisa ser atendida. “Como dou aula de
surf, preciso saber muito bem sobre raios, porque pode ter um aluno
aprendendo a remar e ser atingido. Tenho que saber fazer ressuscitação.
Quem trabalha com montanhismo tem que saber fazer bem uma imobilização,
conhecer doenças provocadas por picadas de mosquito, e assim por
diante”, exemplifica Flávio Ascânio.
O fato do Brasil estar atraindo eventos internacionais tem feito com que muitos turistas nacionais e estrangeiros busquem as
atividades de aventura,
fazendo com que a Abeta iniciasse um programa de Desenvolvimento e
Qualificação para trazer mais segurança na prática do ecoturismo e do
turismo de aventura.
Assim, há desde selos de certificação de equipamentos, seguindo rigor
técnico para prevenir acidentes, até cursos para quem trabalha nesse
segmento, que podem ser conferidos no site
www.abeta.tur.br.
Marcos
Cunha comenta que por ser um mercado em ascensão, o profissional de
Educação Física pode abrir a própria empresa para poder oferecer esse
tipo de atividade de lazer e adquirir equipamentos para a prática é
importante. “Se o aluno não tem um skate ou capacete, por exemplo, levo o
meu pra ele usar. O mesmo acontece com a escalada.”
Outro item de segurança que deve ser priorizado pelos profissionais é a escolha do lugar no qual o
esporte radical
será praticado. Cunha cita que o Parque da Juventude, na cidade de São
Bernardo do Campo (SP), costuma ser bastante utilizado para a prática de
tirolesa e também skate – “é a segunda maior pista da América Latina” –
e escalada em parede vertical. Por ser um ambiente urbano, o auxílio em
caso de acidentes acaba sendo mais fácil, mas e para quem vai para
outra cidade? “Quando vamos fazer escalada em Bragança Paulista (SP),
por exemplo, costumo conversar com o guia de uma pousada de lá que criou
algumas rotas e pergunto como está o tempo, se é possível fazer a
subida, porque ele conhece como ninguém e também fica sabendo que
estamos indo pra lá”, conta Cunha.
Novaes conta que o
profissional pode usar guias de trilhas de secretarias de turismo para
poder conhecer aquelas que são monitoradas e autorizadas para uso antes
de levar uma equipe para o local. “Em relação ao corpo de bombeiros, é
sempre bom avisar também. Se vai para a Serra do Mar, por exemplo,
recomendo que verifique qual é o grupamento que cuida da área, conversar
e avisar que pretende levar um grupo pra lá e em qual dia.”
Já
que precaução nunca é demais, o profissional de Educação Física pode
também conversar com um advogado para desenvolver um termo de
responsabilidade a ser preenchido e assinado pelos turistas antes da
prática, para se precaver de problemas legais em caso de lesões, já que o
risco, mesmo sendo controlado, é existente.
O vício dos Esportes de Aventura
Apesar dos perigos que podem surgir com a prática, quem faz
esportes radicais
costuma brincar que as atividades viciam. Ascânio não discorda, mas
ressalva: “adrenalina não vicia. Ela é uma substância produzida em cima
dos rins e é importante pra preparar o corpo pra fuga e pra luta. Só
isso. Você pensa mais rápido. O que vicia são outras substâncias, como
dopamina, endorfina – se for uma prática de longa duração -, serotonina e
a anandamida, que ainda está em estudo, mas que são liberadas com a
prática esportiva e produzem bem-estar”.
Novaes lembra que não há
grandes restrições na prática desse tipo de esporte, nem para o
profissional, nem para o cliente, mas em caso de deficiências físicas, é
preciso analisar individualmente o caso, já que algumas atividades
podem ser facilmente adaptadas de forma segura para que a pessoa possa
desfrutar de sua
aventura, aumentando o leque de possibilidades do profissional.
Além
dos cursos de especialização e de primeiros socorros, os profissionais
ouvidos recomendam que o profissional de Educação Física coloque “a mão
na massa”, ou melhor, nos equipamentos, e pratique muito a atividade que
vai instruir para poder prever as situações que possam estar
relacionadas a ela. Caso não se sinta seguro ou com experiência
suficiente para levar um grupo para praticar a modalidade, pode-se ainda
fazer “estágios” com equipes e profissionais mais experientes até
conquistar o expertise que precisa. Embora algumas vertentes sejam mais
propícias ao verão, a maioria pode ser feita o ano todo e “o mais bacana
é que não existe competição, não tem que ganhar de alguém”, conta
Ascânio.
Por Jornalismo Portal EF