terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Esportes de aventura são boa pedida para o verão

Nicho em crescimento, esportes radicais atraem profissionais de Educação Física em busca de um trabalho extra durante as férias.

Por ser um País de dimensões continentais, o Brasil está apto à realização de diversas práticas esportivas e as modalidades radicais têm sido bastante procuradas, ainda mais durante o verão, já que muitas são feitas ao ar livre. Flávio Ascânio, professor Ms da disciplina Esportes Radicais e de Aventura, do curso de Educação Física das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), da capital paulista, lembra que as pessoas estão cansadas dos esportes tradicionais e buscam a emoção para escapar das regras do dia a dia. “Quem gosta de emoções acaba buscando essas modalidades - que prefiro chamar de radicais, porque o risco é sempre presente, o que não significa que a pessoa irá se machucar. Acho que o que atrai as pessoas é fazer algo desconhecido. A aventura está em conhecer a prancha, a praia, mas não as ondas, que mudam sempre e propõe uma superação de limites”, destaca Ascânio, que também é surfista.

As opções são bastante variadas e, por isso, costumam ser divididas pelos meios nas quais são praticadas, como aquáticas (surf, rafting, boia cross, aquaride, etc), aéreas (paraglide, asa-delta, parapente, etc), terrestres (montanhismo, cavalgada, etc), de neve (snow board, esqui) e aquelas que mesclam essas vertentes (kite surf), podendo ser praticadas tanto em ambientes internos quanto externos. Algumas vezes, a prática esportiva pode ser limitada pelos desenhos geográficos, sendo praticada em alguns lugares apenas em decorrência também das alterações climáticas. Afinal, como lembra Marcos Cunha, professor de escalada e skate da Outdoor Adventure
(https://www.facebook.com/OutdoorAdventureEsportesEAtividadesDeAventura), quem vai praticar rafting ou boia cross, por exemplo, precisa de um rio bem caudaloso, cheio, e depende das chuvas para que a atividade possa ser praticada.

A Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta) orienta que, de acordo com a Lei Geral do Turismo, publicada em dezembro de 2010, os condutores das empresas de turismo de aventura devem comprovar sua qualificação em Competências Mínimas do Condutor (CMC) e atendimento às emergências, em conformidade com a norma técnica da ABNT NBR 15285. Além disso, é importante que os condutores façam cursos de especialização de acordo com as atividades que irão conduzir (rafting, arvorismo, escalada, mergulho, etc).


Fazendo bonito nos Esportes de Aventura


A alta procura pelos esportes de aventura fez com que universidades de diversos estados criassem cursos de pós-graduação e especialização nesse tipo de modalidade. A falta de mão-de-obra especializada também pesou bastante. Ascânio lembra que em algumas cidades ainda é difícil encontrar gente que realmente esteja preparada para lidar com aquela modalidade e, por isso, os “instrutores” acabam sendo simplesmente praticantes, o que torna a atividade arriscada para os turistas que a buscam.

Foi essa necessidade, inclusive, que motivou Thiago Moreira Novaes, instrutor técnico da Oca Adventure (www.ocaadventure.com.br), a trabalhar com essa área: “passei anos vendo muita gente conduzindo trilhas sem preparo, sem o mínimo conhecimento para levar turistas a esse tipo de atividade, feita junto da natureza”. Especializado em trilhas, Thiago também dá cursos aos profissionais de Educação Física sobre a sua modalidade e também sobre como sobreviver na mata. “É preciso se atualizar para proporcionar segurança e controlar o risco da atividade sem ficar à mercê da natureza. Tem que conhecer bem o meio no qual se trabalha e ter experiência naquela modalidade”, explica.

O professor da FMU lembra que apenas o conhecimento acadêmico não é suficiente. Fazer cursos rápidos e pós-graduação em esportes de aventura é fundamental para poder lidar com esse nicho de mercado, além de buscar outros cursos complementares, como o de primeiros socorros para estar preparado com quaisquer eventualidade que possa surgir durante a prática. Ler artigos, revistas e sites sobre o tema também ajudam muito, mas a prática é o que mais colabora para a qualidade profissional do especialista em esportes radicais.

Segurança nos Esportes de Aventura


Ter conceitos básicos sobre primeiros socorros é fundamental para o profissional de Educação Física que queira se especializar nos esportes de aventura, mesmo que ele só trabalhe com essas atividades aos fins de semana ou temporadas para complementar a renda. Além disso, cada modalidade tem uma necessidade diferente e que precisa ser atendida. “Como dou aula de surf, preciso saber muito bem sobre raios, porque pode ter um aluno aprendendo a remar e ser atingido. Tenho que saber fazer ressuscitação. Quem trabalha com montanhismo tem que saber fazer bem uma imobilização, conhecer doenças provocadas por picadas de mosquito, e assim por diante”, exemplifica Flávio Ascânio.

O fato do Brasil estar atraindo eventos internacionais tem feito com que muitos turistas nacionais e estrangeiros busquem as atividades de aventura, fazendo com que a Abeta iniciasse um programa de Desenvolvimento e Qualificação para trazer mais segurança na prática do ecoturismo e do turismo de aventura. Assim, há desde selos de certificação de equipamentos, seguindo rigor técnico para prevenir acidentes, até cursos para quem trabalha nesse segmento, que podem ser conferidos no site www.abeta.tur.br.

Marcos Cunha comenta que por ser um mercado em ascensão, o profissional de Educação Física pode abrir a própria empresa para poder oferecer esse tipo de atividade de lazer e adquirir equipamentos para a prática é importante. “Se o aluno não tem um skate ou capacete, por exemplo, levo o meu pra ele usar. O mesmo acontece com a escalada.”

Outro item de segurança que deve ser priorizado pelos profissionais é a escolha do lugar no qual o esporte radical será praticado. Cunha cita que o Parque da Juventude, na cidade de São Bernardo do Campo (SP), costuma ser bastante utilizado para a prática de tirolesa e também skate – “é a segunda maior pista da América Latina” – e escalada em parede vertical. Por ser um ambiente urbano, o auxílio em caso de acidentes acaba sendo mais fácil, mas e para quem vai para outra cidade? “Quando vamos fazer escalada em Bragança Paulista (SP), por exemplo, costumo conversar com o guia de uma pousada de lá que criou algumas rotas e pergunto como está o tempo, se é possível fazer a subida, porque ele conhece como ninguém e também fica sabendo que estamos indo pra lá”, conta Cunha.

Novaes conta que o profissional pode usar guias de trilhas de secretarias de turismo para poder conhecer aquelas que são monitoradas e autorizadas para uso antes de levar uma equipe para o local. “Em relação ao corpo de bombeiros, é sempre bom avisar também. Se vai para a Serra do Mar, por exemplo, recomendo que verifique qual é o grupamento que cuida da área, conversar e avisar que pretende levar um grupo pra lá e em qual dia.”

Já que precaução nunca é demais, o profissional de Educação Física pode também conversar com um advogado para desenvolver um termo de responsabilidade a ser preenchido e assinado pelos turistas antes da prática, para se precaver de problemas legais em caso de lesões, já que o risco, mesmo sendo controlado, é existente.

O vício dos Esportes de Aventura


Apesar dos perigos que podem surgir com a prática, quem faz esportes radicais costuma brincar que as atividades viciam. Ascânio não discorda, mas ressalva: “adrenalina não vicia. Ela é uma substância produzida em cima dos rins e é importante pra preparar o corpo pra fuga e pra luta. Só isso. Você pensa mais rápido. O que vicia são outras substâncias, como dopamina, endorfina – se for uma prática de longa duração -, serotonina e a anandamida, que ainda está em estudo, mas que são liberadas com a prática esportiva e produzem bem-estar”.

Novaes lembra que não há grandes restrições na prática desse tipo de esporte, nem para o profissional, nem para o cliente, mas em caso de deficiências físicas, é preciso analisar individualmente o caso, já que algumas atividades podem ser facilmente adaptadas de forma segura para que a pessoa possa desfrutar de sua aventura, aumentando o leque de possibilidades do profissional.

Além dos cursos de especialização e de primeiros socorros, os profissionais ouvidos recomendam que o profissional de Educação Física coloque “a mão na massa”, ou melhor, nos equipamentos, e pratique muito a atividade que vai instruir para poder prever as situações que possam estar relacionadas a ela. Caso não se sinta seguro ou com experiência suficiente para levar um grupo para praticar a modalidade, pode-se ainda fazer “estágios” com equipes e profissionais mais experientes até conquistar o expertise que precisa. Embora algumas vertentes sejam mais propícias ao verão, a maioria pode ser feita o ano todo e “o mais bacana é que não existe competição, não tem que ganhar de alguém”, conta Ascânio.

Por Jornalismo Portal EF

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