Não é de hoje que vemos os fracos desempenhos brasileiros nos jogos olímpicos de verão, e já pensou-se inclusive que o brasileiro não tinha "fibra moral" para competir no alto nível internacional (a conhecida volatilidade do sangue latino: carencia de ídolos e referencias esportivas nacionais também chamada de “síndrome de vira-lata”). Óbvio que esse pensamento arcaico não mais nos rodeia, mas é com muita preocupação que tenho acompanhado e me indignado cada vez mais com o esporte brasileiro, em especial com seus órgãos dirigentes. O jeitinho brasileiro de “levar vantagem em tudo” não é mais uma forma divertida de encararmos o esporte sério, e as práticas que podemos ver quase diariamente além de envergonhar atletas, enfraquece a credibilidade que todos nós, profissionais de educação física, assumimos ao tomar a frente de equipes, sendo na preparação física ou na sua gestão.
Poucas universidades, e que bom que posso incluir a ULBRA Gravataí neste rol, possuem cursos de Educação Física que capacitam os profissionais nessa área do estudo do comportamento e das emoções dos atletas e praticantes de exercício físico. A rotina dos atletas, a vivência do medo da vitória e derrota, as relações internas das equipes, o cenário do cotidiano profissional dos atletas e times, a preparação para jogos e treinos, a concentração e tantos outros momentos do cotidiano esportivo. É preciso ir a campo e conhecer, de perto, a dinâmica da vida esportiva. Há ainda muitos treinadores e dirigentes que insistem em convicções perigosas, ultrapassadas e prejudiciais diante do esporte moderno, e a maioria dos gestores do esporte brasileiro são exatamente parte desta geração. Atuações burocráticas e incoerentes dificultam ainda mais o tempo de permanência e evolução desses atletas no universo das competições e alto rendimento. Falta bom senso, conhecimento, organização e, por vezes, ética. São poucas – e raras – as instituições políticas que apoiam verdadeiramente os atletas em seus caminhos profissionais.
O projeto olímpico que vi acontecer na maioria dos países de oito a dezesseis anos antes dos jogos, vai ter dois, quem sabe três anos de preparação para os jogos do Rio de Janeiro. Raros são os trabalhos multi e interdisciplinares – comuns em países de tradição esportiva, nem no nosso futebol é visto com bons olhos. Parece que ainda não caiu a ficha, e fica a pergunta: há mesmo o interesse no investimento e evolução de nossos atletas? Seria a limitação cognitiva e intelectual de boa parte de nossos dirigentes, uma lacuna intransponível ou imutável?
Veremos. Ano que vem, se o futebol ainda é nosso principal esporte, e daqui a menos de três anos se o esporte brasileiro tem capacidade de competir com as grandes nações do esporte mundial.
Luciano do Amaral Dornelles
Coordenador do Curso de Educação Fìsica
ULBRA Gravataí